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16.5.07

O blog ressucita e o JB morre (mais uma vez)

Post extraordinário destinado a esculhambar o Jornal do Brasil. Tudo bem, eu sei que chutar cachorro morto é sacanagem, mas se está morto, alguém tem que enterrá-lo! Alguém tem que ter a bondade de avisar ao tablóide que seu cadáver está apodrecendo à luz do dia, no meio da rua.

Ontem, o cheiro putrefato atingiu alguns atores do grupo teatral Nós do Morro. Bem no meio da primeira página, uma foto enorme ilustrava a chamada para a matéria "Tráfico exibe poder de fogo pelo Orkut", sobre o uso da internet por facções criminosas: sites que divulgavam e faziam apologia ao tráfico, perfis anônimos do Orkut com fotos de armamentos etc. A dita foto era composta por um grupo de rapazes e uma moça segurando diversas armas, sorrindo e posando para o clique. Na legenda, "Doze homens com armas e coletes à prova de balas. Entre eles, uma mulher".

No meio da tarde de ontem, descobriu-se a cagada. A foto não era de traficantes coisa nenhuma. Os "criminosos" são, na verdade, atores e figurantes que participaram das filmagens do filme "Cidade dos homens", que estréia em agosto, em momento de descontração. O site do Extra e o Comunique-se tornaram pública a barriga (ou seria barrigada?). O grupo Nós do Morro exigia uma correção. Na matéria do Comunique-se, há um trecho "A reportagem tentou conversar com alguém do JB no fim da tarde. Naquele momento a informação era de que os diretores discutiam como seria a retratação e apuravam como a foto chegou ao jornal".

Pois bem, vendo a edição de hoje do JB, pode-se concluir que os diretores não discutiram nem apuraram nada. Como há muito vem sendo feito por ali, tudo foi empurrado com a barriga e, num ato da mais pura sem-vergonhice, tentou-se varrer o erro para debaixo do tapete. Na capa de hoje, no mesmo espaço destinado à matéria do dia anterior a foto reproduz não apenas a imagem retirada do Orkut, como no dia anterior, mas toda a página do site. No título, "Atores viram bandidos em página de apologia ao CV", o primeiro indício da empulhação. Seria necessário acrescentar que os atores viraram bandidos também na primeira página do JB.

Na matéria interna, em nenhum momento o jornal assume sua parcela de culpa. Age como se o único responsável pelo erro fosse a pessoa que colocou a foto dos atores na página criminosa. O JB quer criar um jornalismo livre de responsabilidade? O único que deve responder pelos atos da publicação é a fonte?

MANCHETE: Roubo de rins é nova moda

"JB, isso é um hoax".

MANCHETE do dia seguinte: E-mail espalha mentiras pela internet

Ou:

MANCHETE: Fulano de tal é assassino e corrupto

"JB, isso é mentira".

MANCHETE do dia seguinte: Esposa traída calunia marido infiel

E ainda tem a cara-de-pau de insinuar ter feito um favor aos atores ao "descobrir" o desvio de uso da foto: "Os integrantes do grupo de teatro dizem que não sabiam que a imagem foi exibida em páginas do Orkut nem que havia parado lá. Os atores tomaram conhecimento do que havia ocorrido por intermédio da reportagem publicada ontem no Jornal do Brasil sobre usuários do site de relacionamento que mostram em páginas pessoais armas pesadas, que estariam em poder dos traficantes do Rio de Janeiro". O JB, tão solidário, noticia também, por meio de um professor de teatro dos atores, que "os jovens estão com medo e chateados por terem sido confundidos com traficantes". Confundidos com traficantes por quem, cara pálida?????? Por um anônimo???? Quanta covardia!!!!

Em uma sub-retranca entitulada "Versões sobre a foto", o jornaleco tenta se eximir ainda mais da culpa ao dizer que ninguém, atores e produção do filme, sabia como a foto havia parado na página virtual delinqüente. Mas, JB, todo mundo sabe como a foto foi parar na sua capa de ontem!!! E a sua capa é responsabilidade de quem? Custa tanto admitir a falha? Em 524 palavras sobre a repercussão do caso, nenhuma é sinônimo de "erro" ou "desculpas".

Seria tão mais digno algo no estilo de "Erramos"... Falta de zelo, pressa, pressão, inexperiência levam a isso, mas têm conserto. Prepotência e falta de humildade, não.