Ainda sobre Bogotá. A cidade não é propriamente bonita. A muralha dos Andes a leste é sensacional, mas nada comparado ao Rio. Há muitos problemas, um trânsito caótico, ar poluído, bairros perigosos e os edifícios de tijolos vermelhos, mesmo sendo uma marca registrada de lá, tornam a paisagem um tanto monótona. Com cerca de sete milhões de habitantes, não poderia ser diferente. Mas há uma coisa que sobra em Bogotá e praticamente inexiste no Rio.
Não é algo facilmente perceptível, ainda mais para um turista. É uma sensação, um sentimento de que a cidade está em funcionamento. Não é como o Rio, que vive apesar dos problemas. Lá, é como se a cidade vivesse também para superar os problemas. E que problemas! Há toda a história de drogas, seqüestros e assassinatos, que pode ser resumida com a invasão, há 22 anos, do Palácio da Justiça, sede da Suprema Corte, no centro histórico da cidade, pela guerrilha M-19. Morreram civis, todos os guerrilheiros e metade dos juízes membros da Corte. Algo inimaginável. Há apenas 22 anos. E a cidade superou isso (ou preferiu esquecer, como dizem alguns).
Conversando com moradores e conhecendo o passado recente de Bogotá, fica um pouco mais fácil entender o que falta por aqui. Apesar de capital do país, os bogotanos, de qualquer orientação política, não hesitam em prestar elogios aos seus últimos quatro prefeitos. É a mão visível do poder público. Do poder público LOCAL. Tenho a impressão de que é disso (claro que não só, mas principalmente) que precisamos.
O detalhe é que o mandato para prefeito de Bogotá, antes de 2004, era apenas de dois anos. A mudança começou efetivamente no final da década de 1990. E entre lá e cá houve alternância no poder.
O que dizer, então, do nosso prefeito, que governou o Rio durante 12 dos últimos 16 anos e ainda fez seu sucessor nesse intervalo?