Como é que é?
Que ótimo! A Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro decidiu, por unanimidade, condecorar a aposentada Maria Dora dos Santos Arbex com a medalha Pedro Ernesto, concedida a pessoas que prestaram bons serviços ao município. Para quem não lembra, Maria Dora reagiu a um assalto atirando em um morador de rua que tentava roubar seu celular. O tiro acertou a mão do criminoso, que foi preso, assim como a própria aposentada, por não ter porte de arma. Então quer dizer que agora nossos representantes condecoram pessoas que infringem leis?
O autor da iniciativa, como não poderia deixar de ser, foi o vereador Carlos Bolsonaro, filho do deputado federal (reeleito) Jair Bolsonaro. Diz o vereador que a atitude da aposentada "externa o sentimento de um povo cansado de tanta violência, sem que os órgãos responsáveis tomem qualquer atitude". Pois depois de tanta omissão, é essa a atitude que nosso legislativo municipal toma: condecorar quem anda fora da lei, estimular o "cada um por si". E Bolsonaro ainda lamenta que o tiro tenha atingido a mão, e não o coração, do assaltante, pois assim "seria um vagabundo a menos".
Quer dizer, então, que se eu começar a tacar pedras em veículos que avançam o sinal, cortar os dedos de quem joga lixo na rua, esfaquear os consumidores esporádicos de drogas ou atirar em autoridades (in)competentes, arrisco ganhar uma medalha também? Porque eu estou cansado dessas coisas tanto quanto o povo carioca deve estar cansado da violência.
****
A família Bolsonaro, que ainda conta com o deputado estadual Flávio Bolsonaro, é digna de nota. Eu não devo concordar com nenhuma proposta deles, mas o fato de que eles sejam legítima e seguidamente eleitos e possam expressar suas opiniões (mesmo que para mim elas pareçam absurdas) é uma das coisas admiráveis da democracia. Em uma matéria que fiz sobre redução da maioridade penal, o patriarca Jair deu uma das melhores declarações que já ouvi de um entrevistado:
"A essas pessoas que pensam que é melhor tentar ressocializar os menores infratores do que puni-los, eu digo o seguinte: levem para casa esses bandidos. Cuidem deles, contratem-os para levar suas filhas à faculdade. Em relação a ser cláusula pétrea ou não (a maioridade penal), faltou colocar na Constituição que a vida das vítimas não é pétrea".
Eu tive que morder minha língua para não rir ao telefone.
7 Comments:
O mais assustador é que a decisão foi por unanimidade. Se o Bolsonaro tivesse proposto a medalha sem que ela fose efetivamente condedida não seria surpresa.
Mas é isso: quando o Estado falha seguidamente, como no Rio de Janeiro, malucos como o Bolsonaro encontram espaço para ecoar suas sandices - e são bem recebidos pela população desiludida. A história está cheia de exemplos disso. (Mas confesso que eu bem que gostaria de cortar o dedo de quem joga lixo na rua).
Ah, e se a tendência de liberar geral prosseguir, estou pensando em montar uma milícia para defender os quarteirões da Tijuca. Topa?
Milícas são uma boa idéia, Vitor. Elas já existem em Rio das Pedras. E obrigado pela visita. Como presente, adicionei o link do Repolhópolis na barra lateral.
Vou me adiantar ao titular do blog e acrescentar uma informação - passada pelo próprio: a tal unanimidade foi obtida numa sessão com cerca de dois vereadores. Além disso, o Bolsonaro pai não foi o que apareceu com um militar que prendeu o Dirceu no depoimento dele no Conselho de Ética da Câmara? E um saco de lixo escrito Lula com dois "l" numa sessão da Casa? Sem mais comentários... Tipos como a família Bolsonaro (pelo menos a parte política) podem causar desânimo agudo.
Mais uma vez na ausência do anfitrião, uma contribuição para a coluna "Saiu no Globo Onlaine". Fiquei enojada com a condecoração de fato da tal aposentada, que disse que os moradores de rua deveriam ser deixados no mar. (http://oglobo.globo.com/rio/mat/2006/10/23/286345716.asp)
Pois é, unanimidade de dois, exílio de mendigos, esterilização de pobres, desinfetização de calçadas... Essa história rende!
Aposto que se a aposentada se candidatar a vereadora em 2008, ela leva.
Só precisa de dois veradores para conceder uma medalha? Que vulgaridade...
Sejamos sinceros, a justiça foi feita. Depois de todos esses impropérios, a velhinha bem que merecia uma medalha mesmo...
Vitor, lembrei que o Fernando Gusmão sempre te manda um cartão de aniversário. Ele ainda é vereador. Será que vc não consegueb uma medalha dessas?
Postar um comentário
<< Home