Rali Rio-Angra
A Avenida Brasil é uma das vias mais importantes de entrada e saída da cidade do Rio de Janeiro. Dada a sua importância, conta com quatro pistas em cada sentido, divididos por uma mureta central. Ainda assim, é uma porcaria se comparada com o que deveria/poderia ser e basta uma chuva forte para constatar isso. Pude tirar a prova durante uma de minhas maiores aventuras automobilísticas.
Na sexta-feira à noite, embarquei em um Chevette prata, 1992, bem parecido com o da foto ao lado, rumo à Angra dos Reis. O carro estava lotado, tanto de passageiros quanto de bagagens. Cinco pessoas e um porta-malas entupido. Movidos a GNV, pegamos chuva desde nossa saída de Copacabana. A situação estava mais ou menos tranqüila até o início da Brasil, ali na altura de São Cristóvão, Caju. A partir dali, a chuva engrossou de tal maneira que Rodrigo, o motorista, passou a dirigir a 60km/h em uma via cujo limite permite ir a até 90km/h. Sob e sobre água, fomos avançando. A velocidade do carro aumentava ainda mais a força da chuva e as poças dominavam as pistas. Mais de uma vez fomos surpreendidos por jatos d'água projetados em nossa direção por carros e ônibus que nos ultrapassavam. Como tínhamos que manter os vidros minimamente abertos para que o pára-brisa não embassasse, recebemos diretamente em nossos rostos o líqüido, que a essa altura não podia mais ser chamado de água, proveniente do asfalto asséptico da Avenida Brasil.
Benfica, Manguinhos, Bonsucesso, Ramos, Olaria, Penha, Cordovil, Vogário Geral, Parada de Lucas, Jardim América, Irajá, Acari, Coelho Neto, Barros Filho, Guadalupe, Deodoro, Ricardo de Albuquerque, Realengo e Padre Miguel ficaram para trás conforme avançamos. Nesse trajeto, muitos carros completamente apagados e parados no meio da via, outros tantos em movimento e com o pisca-alerta ligado e muitas poças bem-dotadas. Em algum posto entre Padre Miguel e Campo Grande decidimos dar uma parada porque temíamos que o Chevettinho não agüentasse por muito mais tempo tanta chuva. O pit-stop foi rápido. Ficamos uns cinco minutos dentro do carro. Nem mesmo conseguimos um teto, pois o posto estava apinhado de outros refugiados.
Caímos na estrada novamente, dando seqüência ao nosso road-movie, para, logo em seguida, depararmo-nos com o que foi, provavelmente, o maior desafio da jornada: um extenso e profundo rio sazonal cujo curso atravessa a Avenida Brasil de ponta a ponta. Foram, provavelmente, os cem metros mais longos que já percorri dentro de um carro. O temor de que o carro morresse era constante e ampliado a cada vez que um motorista de perícia menor que o piloto que nos conduzia (sim, a essa altura o Rodrigo já havia se revelado um piloto) cismava em atravessar o rio lentamente ou toda vez que um ônibus ou caminhão nos ultrapassava, formando tsunamis que podiam muito bem engolir o humilde Chevette. No fim das contas, para nossa sorte, o único prejuízo foi uma mala molhada no bagageiro.
Após uma outra parada para ir ao banheiro, estacionamos no Extra de Santa Cruz para abastecer e comer. Devido ao avançado da hora, todas as lanchonetes do local estavam fechadas e tivemos que nos contentar em comprar biscoitos salgados genéricos. Por ironia, ao saírmos do estacionamento, avistamos logo à frente, a cerca de cem metros, um Bob's em pleno funcionamento.
Quando pensei que o pior havia passado, pois a chuva havia diminuído, eis que descubro as precárias condições da Rio-Santos. Uma estrada com apenas uma pista em cada sentido, divididas por olhos de gato, que em alguns momentos já não existem mais, e com um acostamento xexelento. Lá na frente, já próximo de Angra, tivemos que enfrentar a chuva, que recrudescera, um nevoeiro sinistro e o sono que começava a acometer nosso piloto. Eu, particularmente, também tive que enfrentar um mala que não coube no local apropriado e que cismava em tentar ver a estrada pelo vão dos bancos centrais. Para tanto, ele não hesitava em colocar sua cabeça a um centímetro da minha.
No fim, ainda tivemos um contratempo com o porteiro do condomínio que era nosso destino final. O desgraçado certamente não fazia idéia do que havíamos acabado de passar e quis mostrar serviço, impedindo nossa entrada. Mas, com a graça de Deus, tudo acabou bem.
A história toda pode parecer meio sem graça, mas me senti compelido a escrever uma sincera homenagem a esse bravo Chevette 1992 movido a gás. Uma salva de palmas pra ele, por favor, que não fraquejou em nenhum momento, apesar de minhas dúvidas, e ainda fez o trajeto de volta, também debaixo de chuva, com uma segurança admirável. Parabéns também ao Rodrigo que, com a aposentadoria de Schumacher, pode tentar a sorte na Fórmula-1.
Na sexta-feira à noite, embarquei em um Chevette prata, 1992, bem parecido com o da foto ao lado, rumo à Angra dos Reis. O carro estava lotado, tanto de passageiros quanto de bagagens. Cinco pessoas e um porta-malas entupido. Movidos a GNV, pegamos chuva desde nossa saída de Copacabana. A situação estava mais ou menos tranqüila até o início da Brasil, ali na altura de São Cristóvão, Caju. A partir dali, a chuva engrossou de tal maneira que Rodrigo, o motorista, passou a dirigir a 60km/h em uma via cujo limite permite ir a até 90km/h. Sob e sobre água, fomos avançando. A velocidade do carro aumentava ainda mais a força da chuva e as poças dominavam as pistas. Mais de uma vez fomos surpreendidos por jatos d'água projetados em nossa direção por carros e ônibus que nos ultrapassavam. Como tínhamos que manter os vidros minimamente abertos para que o pára-brisa não embassasse, recebemos diretamente em nossos rostos o líqüido, que a essa altura não podia mais ser chamado de água, proveniente do asfalto asséptico da Avenida Brasil.
Benfica, Manguinhos, Bonsucesso, Ramos, Olaria, Penha, Cordovil, Vogário Geral, Parada de Lucas, Jardim América, Irajá, Acari, Coelho Neto, Barros Filho, Guadalupe, Deodoro, Ricardo de Albuquerque, Realengo e Padre Miguel ficaram para trás conforme avançamos. Nesse trajeto, muitos carros completamente apagados e parados no meio da via, outros tantos em movimento e com o pisca-alerta ligado e muitas poças bem-dotadas. Em algum posto entre Padre Miguel e Campo Grande decidimos dar uma parada porque temíamos que o Chevettinho não agüentasse por muito mais tempo tanta chuva. O pit-stop foi rápido. Ficamos uns cinco minutos dentro do carro. Nem mesmo conseguimos um teto, pois o posto estava apinhado de outros refugiados.
Caímos na estrada novamente, dando seqüência ao nosso road-movie, para, logo em seguida, depararmo-nos com o que foi, provavelmente, o maior desafio da jornada: um extenso e profundo rio sazonal cujo curso atravessa a Avenida Brasil de ponta a ponta. Foram, provavelmente, os cem metros mais longos que já percorri dentro de um carro. O temor de que o carro morresse era constante e ampliado a cada vez que um motorista de perícia menor que o piloto que nos conduzia (sim, a essa altura o Rodrigo já havia se revelado um piloto) cismava em atravessar o rio lentamente ou toda vez que um ônibus ou caminhão nos ultrapassava, formando tsunamis que podiam muito bem engolir o humilde Chevette. No fim das contas, para nossa sorte, o único prejuízo foi uma mala molhada no bagageiro.
Após uma outra parada para ir ao banheiro, estacionamos no Extra de Santa Cruz para abastecer e comer. Devido ao avançado da hora, todas as lanchonetes do local estavam fechadas e tivemos que nos contentar em comprar biscoitos salgados genéricos. Por ironia, ao saírmos do estacionamento, avistamos logo à frente, a cerca de cem metros, um Bob's em pleno funcionamento.
Quando pensei que o pior havia passado, pois a chuva havia diminuído, eis que descubro as precárias condições da Rio-Santos. Uma estrada com apenas uma pista em cada sentido, divididas por olhos de gato, que em alguns momentos já não existem mais, e com um acostamento xexelento. Lá na frente, já próximo de Angra, tivemos que enfrentar a chuva, que recrudescera, um nevoeiro sinistro e o sono que começava a acometer nosso piloto. Eu, particularmente, também tive que enfrentar um mala que não coube no local apropriado e que cismava em tentar ver a estrada pelo vão dos bancos centrais. Para tanto, ele não hesitava em colocar sua cabeça a um centímetro da minha.
No fim, ainda tivemos um contratempo com o porteiro do condomínio que era nosso destino final. O desgraçado certamente não fazia idéia do que havíamos acabado de passar e quis mostrar serviço, impedindo nossa entrada. Mas, com a graça de Deus, tudo acabou bem.
A história toda pode parecer meio sem graça, mas me senti compelido a escrever uma sincera homenagem a esse bravo Chevette 1992 movido a gás. Uma salva de palmas pra ele, por favor, que não fraquejou em nenhum momento, apesar de minhas dúvidas, e ainda fez o trajeto de volta, também debaixo de chuva, com uma segurança admirável. Parabéns também ao Rodrigo que, com a aposentadoria de Schumacher, pode tentar a sorte na Fórmula-1.
2 Comments:
Foi uma surpresa, nunca tinha lido Ivan em prosa. Gostei de saber q vc escreve um texto diferente.
obs1: O Chevette é realmente 1992. Imagina, em 82 vc sequer tinha nascido!!!
obs2: Líquido da Av. Brasil = banho obrigatório depois
obs3: Rodrigo pode ter de co-pilota a Elisa, q tb demonstrou talento e sagacidade ao chegar até a fronteira com o Paraná e enfrentar mil peripécias
O ano do carro já foi devidamente corrigido.
E eu tomei banho depois.
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